SEGREDOS OFICIAIS
(OFFICIAL SECRETS)
É um filme de parceria do Reino Unido e USA cuja estréia no Brasil ocorreu em 31/10/2019, com direção e roteiro do sul africano Gavin Hood, mesmo diretor de Ender's Game - O Jogo do Exterminador (2013), X-Men Origens: Wolverine(2009), entre outros. A película ambientada no início dos anos 2000, dramatiza a trajetória de vida de Katharine Teresa Gun, que tornou-se mundialmente famosa ao expor segredos extremamente confidenciais da Agência de Segurança Nacional. O filme não se limita a apresentar as pessoas por trás da história, mas transforma o caso da publicação de um comunicado do governo britânico em um suspense envolvente, elevado por atuações extremamente inspiradas.
Katharine Gun (Keira Knightley), é uma tradutora do Government Communications Headquarters (GCHQ, agência da inteligência britânica responsável por vigiar os meios de comunicação) que, em 2003, vazou uma ordem de seus superiores para, a pedido do governo dos Estados Unidos, espionar membros do Conselho de Segurança da ONU e adquirir informações que pudessem ser usadas para convencer as delegações a votarem a favor da guerra do Iraque. Considerando o pedido ilegal e com remorso pelas vidas que seriam perdidas no caso de um confronto, Gun encontrou um jeito de publicar a ordem, sendo então enquadrada no Ato de Segredos Oficiais da Constituição britânica, que proíbe qualquer empregado do governo de compartilhar informações consideradas sigilosas com pessoas fora do trabalho. Partindo deste ponto, o filme de Gavin Hood passa a seguir os acontecimentos no período de um ano após a publicação do e-mail recebido por Katharine no jornal The Observer. Com extremo cuidado para não vitimizar demais sua protagonista, o diretor dá o mesmo tempo para as repercussões do escândalo na mídia, nas instituições públicas e no debate popular, cada um com sua própria visão sobre os atos de Gun. Dissecando cada consequência do vazamento, Hood cria duas tramas separadas, embora completamente dependentes: a vida da mulher que, aos 28 anos, passa a ser acusada de alta traição pelo próprio governo e o papel da mídia no escândalo, em núcleo liderado por Martin Bright (Matt Smith), jornalista que assinou a matéria do jornal The Observer. Mesmo sem uma comunicação direta entre os personagens, não há um diálogo ou ação de Gun que não reflita no trabalho de Bright, que por sua vez afeta a vida da moça a cada linha que publica, mesmo sem saber seu nome.
Apesar de se tratar de uma biografia, o longa resiste ao impulso de idealizar seus heróis. Katharine fraqueja em diversos momentos e se arrepende das ações logo que vê seu documento publicado, Bright se delicia com o sucesso de sua reportagem e Ben Emmerson (Ralph Fiennes), advogado de Gun, se utiliza de um argumento extremamente arriscado na defesa de sua cliente, na tentativa de vencer um velho conhecido nos tribunais. Essa exposição dos personagens, somada às boas atuações do elenco, não só facilita a identificação com o público como também cria uma tensão que raramente se vê em dramas de tribunal hoje em dia. O trabalho dos atores também eleva Segredos Oficiais para uma categoria à parte dentro do gênero. Fiennes dá a Emmerson não só o ar de autoridade e experiência necessária a um advogado prestes a enfrentar o governo, mas também a determinação inigualável de alguém disposto a batalhar por um ideal. Já Knightley carrega absolutamente todo o peso emocional do filme em uma das melhores atuações de sua carreira. Do trio de protagonistas, o único que destoa é Matt Smith: mesmo sem ter uma atuação ruim, o inglês ainda se vê preso aos maneirismos que o tornaram famoso em Doctor Who e sua performance, a meu ver aqui um pouco desatenta, para quem acompanhou seu período na clássica série britânica. Apesar disso, o núcleo de Smith é o mais interessante do filme.
Um momento inconsistente da narrativa é quando, no segundo ato, os jornalistas somem de cena para dar espaço para outras subtramas, voltando a ter certo destaque apenas no final. Mesmo fazendo sentido narrativamente para novos e importantes personagens, tal transição poderia ser feita de forma mais sutil, sem deixar o núcleo jornalístico fora da tela por tanto tempo, já que eles têm um destaque tão importante no início. A forma como Hood retrata a cobertura midiática é extremamente realista, mostrando veículos e jornalistas que colocam as ideologias e interesses de seus empregadores acima da notícia, ou que mudam radicalmente seus discursos ao perceberem o potencial econômico de uma matéria. Mesmo contando a história de uma mulher que arriscou tudo ao tentar impedir uma guerra ilegal, Segredos Oficiais pintou um quadro assustadoramente realista sobre a maneira como o jornalismo é feito, especialmente no Século XXI.
Brilhante em quase toda a sua projeção e acima da média até em seus poucos pontos fracos, Segredos Oficiais é mais do que apenas uma importante história real levada às telas, é um exemplo a ser seguido por produções biográficas futuras, pelos noticiários nas mídias contemporâneas como um todo, e um novo destaque para para todos os envolvidos, incluindo seus já consagradíssimos atores.
Pelo que eu sei, a não ser que tenha como assistir em outros canais tipo "per-per-view", o filme está disponível no Amazon Prime Vídeo e também no YouTube. Vale muito a pena assistir esta película!!!!!
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