quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A QUÍMICA QUE HÁ ENTRE NÓS

 

  A QUÍMICA QUE HÁ ENTRE NÓS

(CHEMICAL HEARTS)


                O processo de crescimento e amadurecimento de uma pessoa depende de diversos fatores. Uma porção deles externos, de caráter social, cultural, familiar; e outra porção deles internos, de caráter emotivo, sentimental. Como o próprio roteiro de Richard Tanne, também diretor, coloca aqui em sua adaptação para o livro de Krystal Sutherland, não é um período confortável da vida de ninguém. Misturando medo, insatisfações, muita confusão e emoções à flor da pele, a adolescência nos empurra e nos puxa para os mais diversos lugares e situações, fazendo-nos viver experiências que mudam de contexto para o contexto de cada pessoa, mas acabam tendo, proporcionalmente a cada recorte, o seu caráter traumático. Além de moldador de caráter e de experiências.                                                                É disso que Chemical Hearts fala. Não bastasse o momento complicado da vida, Grace Town (Lili Reinhart) vive num abismo depressivo desde a morte de seu namorado. A mudança da escola deveria ser um novo começo para ela, mas há uma série de fatores, que tornam essa recuperação mais lenta e complexa, para infelicidade e também nova fonte de problemas para Henry Page (Austin Abrams). À primeira vista, estamos diante de uma "passagem para maioridade" clássica, com algum tipo de deslocamento, idas e vindas do amor, um problema ou ação escolar, conflitos familiares e por aí vai.                                                                                                                                                Todavia, em "A Química Que Há entre Nós", temos um tratamento mais maduro para esse tipo de temática, com menor foco no lado romântico por si mesmo e mais foco nos problemas centrais vividos pelos personagens. É claro que abordagens dramáticas menos pesadas dão suporte à grande linha que costura a trama, mas tudo acaba se ligando ao luto, depressão e dificuldade de seguir em frente, que Grace encarna, tanto por estar cercada pelos objetos de sua dor, quanto pela complexidade meio doentia dos eventos que a cerca - e não digo isso no sentido negativo. O roteiro estabelece um status mórbido para toda a história, sendo introduzido por Grace e sua postura de "tanto faz", em relação ao mundo. Aos poucos, essa aura lúgubre também abraça Henry, que à sua maneira, passa a ser assombrado pelo garoto morto em um acidente de carro, fonte da dor de Grace, agora interesse amoroso de Henry. Existe tanto um reforço como uma brincadeira do roteiro com o fato de que a vida, constantemente, nos bombardeia por acontecimentos que tiram o chão de nossos pés e nos coloca em uma situação onde não sabemos como agir. Para o período etário da trama, isso é ainda mais sério. Eles são forçados a encarar a morte de frente, cada um desenvolvendo seus pensamentos sobre o que é viver e deixar de viver, algo que a direção de Taunne aproveita para cercar os personagens de símbolos que aludem a isso (peixes, cerâmica quebrada, livros com temática de suicídio entre jovens......). E no meio desse terreno inóspito de dor e de formação, nasce o sentimento que a tudo pode transformar, O Amor.                                                                                                                Para um filme de temática solene como este, é necessário um cuidado maior no encadeamento da história, para que um bloco não acabe enfraquecendo o outro, dando a impressão de ser composto por segmentos unidos por uma montagem paralela. No primeiro ato, o diretor consegue alternar bem a passagem entre os problemas escolares, a discussão para o jornal, a aproximação entre Henry e Grace e alguns percalços familiares. À medida que o filme avança, a interação entre esses espaços fica mais problemática, surgindo fora do tempo ou por um recurso de transição que parece fazer questão de matar a atmosfera tão penosamente construída na cena anterior. Tanto Lili Reinhart quanto Austin Abrams constroem personagens complexos, emotivos, cheio de camadas e que mudam bastante ao longo do filme.                                                                                                                  Lamento um pouco que o mesmo processo de luminosidade emocional, ao fim, não tenha sido adotado para Henry, mas sua contraparte passa por diversos estágios e chega ao derradeiro momento de maneira bem diferente, sendo tratada com a delicadeza necessária por Reinhart, que na verdade carrega o filme, primeiro pelo afastamento que causa no espectador, depois pela aproximação e simpatia que constrói. Aqui, dor, mudanças e amadurecimento andam de mãos dadas.                                                                              Por um breve momento o vazio interior desses personagens é preenchido, mas há algo que ainda precisa ser consertado, e essa presença do outro, apenas não basta. Uma história sobre relacionamentos, luto e superação por um viés realista, honesto e respeitoso. Filme americano lançado em 2020 pela Prime Video (canal por assinatura). Finalizo dizendo amigos cinéfilos que recomendo, quem tiver acesso para assistir. Até a próxima!!!!                                       

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