CASA GRANDE
Olá amigos do meu Blog, hoje venho comentar esse filme brasileiro de 2014, que assisti ontem (15/08/20) pela Net Flix com direção do estreante na categoria de longa metragem Fellipe Gamarano Barbosa, e tive uma grata surpresa. Ele na sua vida pessoal, foi filho de uma elite decadente, que viu ruir suas expectativas em manter o mesmo status quo para as gerações seguintes. Só que ele saiu de casa antes da quebra, foi estudar cinema nos Estados Unidos e acabou sendo preservado, de um modo ou de outro, da nova condição que tomava conta de sua família. Quando ficou a par dos fatos, o choque foi tão intenso - afinal, era algo pelo qual não esperava - quanto estranho - pois sua vida já havia mudado neste ínterim, e o que havia deixado lá atrás não lhe fazia mais falta. Jean, o personagem, é um pouco Fellipe. Mas um é ficção, e o outro é criador. Um está no outro, mas como base, e não complemento. Foi uma forma de expiar o drama familiar, mas sob a forma de manifestação artística, em uma análise que não poderia ser lida como isolada. Muitos brasileiros de norte a sul experimentaram - e ainda experimentam - a mesma situação, dia após dia. Esta é uma obra surpreendentemente madura para uma película de longa metragem de estréia do diretor, pois antes ele havia entregue o documentário Laura (2011) e participado pontualmente do projeto coletivo Rio, Eu Te Amo (2014). Com bastante sensibilidade e sem exagerar nos pontos mais condenatórios - nos compadecemos até mesmo daqueles que poderiam ser apontados como "culpados", pois todos possuem suas razões e nada aqui é gratuito - ele consegue atingir um discurso muito próprio, que permite que seus personagens se desenvolvam sem pressa nem atropelo, proporcionando as condições necessárias para que cada reviravolta surja naturalmente. O afastamento dos pais, a visão pelo outro lado das coisas, a inversão dos papéis: tudo está ali, com cada movimento no seu devido tempo e lugar.
Fellipe Barbosa usa de tons autobiográficos para contar a história de Jean (Thales Cavalcanti), um estudante do tradicional Colégio São Bento, do Rio de Janeiro (um reduto da classe média alta carioca), no último ano do ensino médio, ou seja, naquela fase em que os hormônios mais cutucam e o presente cobra a definição do que você vai ser para o resto da vida. Quando a família dele demite o motorista Severino, que o leva à escola todo santo dia, o jovem percebe que nem tudo vai bem no reino da Barra da Tijuca (bairro nobre do Rio de Janeiro). E o rapaz passa a usar o coletivo para se deslocar. Os pais, Sonia (Suzana Pires) e Hugo (Marcello Novaes), super protetores, tentam esconder a derrocada financeira dos filhos, a reboque da falência de um tipo de capital especulativo. (Pense "Eike Batista" : o Tema é pertinente e atual). Em certo sentido, a produção mantém uma tradição cinematográfica brasileira do filme de denúncia social. Por outro lado, inova com um roteiro redondo, sobretudo apoiado em diálogos críveis, tão raros em produções nacionais, o que resulta em um apelo comercial igualmente inusitado para uma obra cinematográfica brasileira que não é filha da TV. Para viver os personagens principais, Barbosa escalou atores não profissionais. Thales Cavalcanti, que até então, era "só" um estudante do São Bento na "vida real", talvez por isso mesmo, tem uma atuação bastante convincente - e também sutil, mérito do novo ator, claro. No ônibus, Jean conhece a personagem Luiza de Bruna Amaya (outra estreante), uma menina mestiça, que estuda em escola pública e, não tarda, os dois engatam um namoro. É uma personagem doce, que Amaya faz sorrir com os olhos. E a grande surpresa é a hilária empregada doméstica Rita vivida pela também novata Clarissa Pinheiro, sem dúvida uma das melhores contribuições do filme. A título de curiosidade essa atriz foi aluna de Fellipe Barbosa no curso de direção na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, e o personagem do motorista Severino (Gentil Cordeiro) é outro também não ator profissional. Esse filme foi premiado nos Festivais de Paulínia, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Recife. Casa Grande foi exibido com sucesso também no exterior, onde ganhou prêmios da crítica e do público em mostras e competições na França (Toulouse) e em Portugal (Santa Maria da Feira), entre outros. É um filme que se mantém em pé com suas próprias pernas, graças ao talento inequívoco do seu realizador, um jovem que sabe observar, analisar e traduzir em linguagem cinematográfica, com eficiência, uma realidade que parece distante, mas que pode - e está - muito mais próxima do que imaginamos - e que gostaríamos. Disponível na NetFlix (aluguel) ou no YouTube Filmes (gratuito). Vale a pena conferir essa película que mistura drama, romance, tudo na dose certa galera!!!!!!!