domingo, 16 de agosto de 2020

CASA GRANDE

                                                                         
                                                                 
                                                                           
 


CASA GRANDE

          Olá amigos do meu Blog, hoje venho comentar esse filme brasileiro de 2014, que assisti ontem (15/08/20) pela Net Flix com direção do estreante na categoria de  longa metragem Fellipe Gamarano Barbosa, e tive uma grata surpresa. Ele na sua vida pessoal, foi filho de uma elite decadente, que viu ruir suas expectativas em manter o mesmo status quo para as gerações seguintes. Só que ele saiu de casa antes da quebra, foi estudar cinema nos Estados Unidos e acabou sendo preservado, de um modo ou de outro, da nova condição que tomava conta de sua família. Quando ficou a par dos fatos, o choque foi tão intenso - afinal, era algo pelo qual não esperava - quanto estranho - pois sua vida já havia mudado neste ínterim, e o que havia deixado lá atrás não lhe fazia mais falta. Jean, o personagem, é um pouco Fellipe. Mas um é ficção, e o outro é criador. Um está no outro, mas como base, e não complemento. Foi uma forma de expiar o drama familiar, mas sob a forma de manifestação artística, em uma análise que não poderia ser lida como isolada.                    Muitos brasileiros de norte a sul experimentaram - e ainda experimentam - a mesma situação, dia após dia. Esta é uma obra surpreendentemente madura para uma película de longa metragem de estréia do diretor, pois antes ele havia entregue o documentário Laura (2011) e participado pontualmente do projeto coletivo Rio, Eu Te Amo (2014). Com bastante sensibilidade e sem exagerar nos pontos mais condenatórios - nos compadecemos até mesmo daqueles que poderiam ser apontados como "culpados", pois todos possuem suas razões e nada aqui é gratuito - ele consegue atingir um discurso muito próprio, que permite que seus personagens se desenvolvam sem pressa nem atropelo, proporcionando as condições necessárias para que cada reviravolta surja naturalmente. O afastamento dos pais, a visão pelo outro lado das coisas, a inversão dos papéis: tudo está ali, com cada movimento no seu devido tempo e lugar. 
          Fellipe Barbosa usa de tons autobiográficos para contar a história de Jean (Thales Cavalcanti), um estudante do tradicional Colégio São Bento, do Rio de Janeiro (um reduto da classe média alta carioca), no último ano do ensino médio, ou seja, naquela fase em que os hormônios mais cutucam e o presente cobra a definição do que você vai ser para o resto da vida. Quando a família dele demite o motorista Severino, que o leva à escola todo santo dia, o jovem percebe que nem tudo vai bem no reino da Barra da Tijuca (bairro nobre do Rio de Janeiro). E o rapaz passa a usar o coletivo para se deslocar. Os pais, Sonia (Suzana Pires) e Hugo (Marcello Novaes), super protetores, tentam esconder a derrocada financeira dos filhos, a reboque da falência de um tipo de capital especulativo. (Pense "Eike Batista" : o Tema é pertinente e atual).                                                                                                                              Em certo sentido, a produção mantém uma tradição cinematográfica brasileira do filme de denúncia social. Por outro lado, inova com um roteiro redondo, sobretudo apoiado em diálogos críveis, tão raros em produções nacionais, o que resulta em um apelo comercial igualmente inusitado para uma obra cinematográfica brasileira que não é filha da TV. Para viver os personagens principais, Barbosa escalou atores não profissionais. Thales Cavalcanti, que até então, era "só" um estudante do São Bento na "vida real", talvez por isso mesmo, tem uma atuação bastante convincente - e também sutil, mérito do novo ator, claro.                                           No ônibus, Jean conhece a personagem Luiza de Bruna Amaya (outra estreante), uma menina mestiça, que estuda em escola pública e, não tarda, os dois engatam um namoro. É uma personagem doce, que Amaya faz sorrir com os olhos. E a grande surpresa é a hilária empregada doméstica Rita vivida pela também novata Clarissa Pinheiro, sem dúvida uma das melhores contribuições do filme. A título de curiosidade essa atriz foi aluna de Fellipe Barbosa no curso de direção na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, e o personagem do motorista Severino (Gentil Cordeiro) é outro também não ator profissional.                                                                Esse filme foi premiado nos Festivais de Paulínia, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Recife. Casa Grande foi exibido com sucesso também no exterior, onde ganhou prêmios da crítica e do público em mostras e competições na França (Toulouse) e em Portugal (Santa Maria da Feira), entre outros.                                                      É um filme que se mantém em pé com suas próprias pernas, graças ao talento inequívoco do seu realizador, um jovem que sabe observar, analisar e traduzir em linguagem cinematográfica, com eficiência, uma realidade que parece distante, mas que pode - e está - muito mais próxima do que imaginamos - e que gostaríamos. Disponível na NetFlix (aluguel) ou no YouTube Filmes (gratuito). Vale a pena conferir  essa película que mistura drama, romance, tudo na dose certa galera!!!!!!! 

domingo, 2 de agosto de 2020

TERRA SELVAGEM

                                                                             
                                                                           
   

TERRA SELVAGEM
                                   ( WIND RIVER )

           O diretor Taylor Sheridan após anos em uma carreira mediana como ator, estreou como roteirista em 2015, como uma imensa promessa ao escrever o brilhante "Sicário: Terra de Ninguém", voltando a acertar no ano seguinte com "A Qualquer Custo" - e se ambos os filmes lidam com homens áridos e violentos habitando universos similares, é perfeitamente possível encarar este "Terra Selvagem" (2017), como o terceiro capítulo de uma trilogia informal, já que acompanha o caçador Cory Lambert (Jeremy Renner) em uma região que, embora substitua a secura dos dois primeiros longas por tempestades de neve, não é menos inóspita que a daquelas produções.                                                                                      Desta vez, porém, Sheridan também estréia como diretor, apresentando-se talvez não como a revelação que foi como roteirista, mas certamente como dono de um potencial que merece ser explorado. 
           Filme inspirado em fatos reais, Terra Selvagem se passa em uma reserva indígena na qual o cadáver congelado de Natalie Hanson (Kelsey Asbille Chow), uma jovem local, foi encontrada com sinais de estupro e espancamento. Deslocada para investigar o caso apenas por estar próxima da região, a agente do FBI Jane Banner (Elizabeth Olsen) requisita a ajuda do protagonista para ser o guia na paisagem coberta de neve, sendo ocasionalmente aconselhada também pelo xerife Ben Shoyo (Graham Greene). O desenvolvimento da história está centralizado na vida de cada personagem, principalmente a medida que suas histórias pessoais vão sendo reveladas. 
            Em meio a tantas políticas segregacionistas no país, nos deparamos com uma produção necessária e preocupante, que veio para abrir os olhos de seu espectador, em relação ao descaso para com os indígenas. A mensagem que estampa o final do filme é chocante, nos mostrando até que ponto vai o respeito entre os seres humanos. Durante o ano, milhares de aldeias americanas são dizimadas e sua população exterminada..... e nada aparece na mídia. Para nós brasileiros pode parecer algo fora de nossa alçada, mas devemos olhar para nosso próprio umbigo e lembrar que o mesmo acontece há anos em nosso país. Crescemos aprendendo a valorizar a cultura indígena e compreendemos que foram eles os primeiros habitantes do Brasil. O tempo passa, somos dominados pela mídia e pela capitalização, e é necessário um filme para nos trazer de volta a nossas origens. 
          A única crítica que tenho em relação ao filme é quanto a sua pouca duração. O roteiro é bem trabalhado, mas entrega a solução do crime de maneira muito rápida, mal dando espaço para o espectador tentar adivinhar o assassino. Em questão de momentos, temos toda a cena desenvolvida, o crime solucionado e os responsáveis capturados.  O diretor poderia ter alongado mais um pouco a narrativa, criando a sensação de ansiedade e curiosidade em quem estivesse assistindo. Além disso, o personagem de Jon Bernthal, cuja atuação teve muito pouco tempo para  desenvolver a interpretação, lamentável, pois, sabemos do potencial desse ator e do que ele é capaz, porém nos poucos minutos em que aparece na tela, faz o que lhe foi solicitado. 
           Para concluir, não há dúvidas de que Terra Selvagem é um ótimo filme, com um elenco excelente e que poderia ter uma duração maior. Caracterizando um cenário esquecido e ignorado por muitos, o longa abre nossos olhos para o descaso sofrido por populações indígenas em todos os lugares do mundo. Além de mostrar ao público um pouco de respeito ao próximo, a produção possui uma bela fotografia e um enredo de suspense cativante - mesmo que acabe rapidamente. Taylor Sheridan confirmou seu talento como roteirista e cineasta da maneira mais clara possível, nos entregando algo de tirar o fôlego e cheio de surpresas. Vale conferir para os amantes desse gênero de filme de ação e aventura, disponível na Netflix, Globoplay,  Vivoplay e no YouTube. 


sábado, 1 de agosto de 2020

A CASA DOS ESPÍRITOS




               A CASA DOS ESPÍRITOS
                        ( HOUSE OF THE SPIRITS )


          O filme segue os Trueba, uma turbulenta família chilena de classe alta composta por seu patriarca violento e mulheres clarividentes que, por três gerações, vivem os acontecimentos mutáveis de seu país.  Baseado no romance de Isabel Allende (sobrinha do ex-presidente do Chile Salvador Allende), publicado em 1982, que retrata a saga da família Trueba, no Chile, ao longo do século XX.                                            A ação da obra reflete o momento revolucionário do Chile, terminado com o golpe militar de 1973, que veio a derrubar o presidente Salvador Allende. A história é narrada por três personagens: Esteban Trueba (Jeremy Irons), a sua mulher Clara del Valle (Meryl Streep) e a filha do casal Blanca (Winona Ryder). 
         Esteban Trueba, um jovem decidido e ambicioso, pretende fazer fortuna, trabalhando numa mina, com o objetivo de casar com Rosa del Valle (Teri Polo), irmã mais velha de Clara, mas, no entanto esta morre repentinamente, tal como a sua irmã Clara tinha premunido. O jovem Esteban, amargurado pela morte súbita da sua pretendente, deixa a mina e instala-se numa fazenda abandonada, tornando-se um latifundiário abastado, poderoso e arrogante. Após vários anos, Esteban casa-se com Clara, passando o casal a viver com a irmã de Esteban, Férula (Glenn Close). Do casamento nasce Blanca (Winona Ryder) e posteriormente dois rapazes gêmeos, Jaime e Nicolás. Esteban, com inveja da influência de Férula sobre Blanca, expulsa a irmã de casa, além, de internar sua filha num colégio distante.                                                          Quando esta regressa a casa, apaixona-se por Pedro, filho do capataz da fazenda, que entretanto se tornara líder da rebelião dos trabalhadores rurais contra o latifundiário. Blanca fica grávida, mas Esteban, por ambições políticas, pretende casá-la com um conde francês. Perante tal pretensão, Blanca e Pedro saem do País. Da união dos jovens enamorados nasce Alba, que vai continuar a luta pela justiça social, iniciada pelos pais, chegando mesmo a ser presa e torturada.                                        Com direção e roteiro de Billie August, o filme foi lançado em 1993, e achei esse filme magnífico, com grandes atuações e uma história que mostra a realidade que perdura durante gerações até os dias de hoje. Roteiro super inteligente e o que dizer das cenas em que temos Meryl Streep e Glenn Close atuando juntas? Simplesmente me deixaram de queixo caído. A última cena da Glenn Close é uma das melhores. Achei um absurdo esse filme não ter tido uma indicação sequer ao Oscar! 
          Para mim foi a melhor atuação da carreira de Jeremy Irons até hoje, ele foi muito melhor do que em Reverso da Fortuna, pela qual ele foi premiado. Um dos melhores filmes que já assisti, sem dúvida alguma, e acredito que todos deveriam assistir, porque trata de uma passagem histórica e dura, mostrando bem como funcionavam os regimes militares na ditadura. Filme essencial para ilustrar o momento tenebroso em que vivemos no nosso país. Palmas para todo o elenco e para a direção e roteiro, pois fizeram uma obra-prima atemporal. Amigos cinéfilos, quem não viu, não perca, pegue a pipoca e o refrigerante e ótimo entretenimento, disponível no NetFlix (aluguel) e no YouTube (gratuito).